Nalva Araújo
[Primeiro colocamos um muro de proteção e passamos a imagem de que somos perfeitos,bonzinhos...No entanto,só podemos ser nós mesmos quando permitimos que o outro nos veja intimamente e geralmente não é um lado tão bonito,por isso ele fica oculto...temos defeitos,cicatrizes,cuecas sujas(calcinhas),um monte de sujeira debaixo do tapete, que só pode ser vista com intimidade ...Porém,quem não tem ?(...)
Aí que está o sabor da amizade,aceitar o outro como é...

Nalva Araújo]



A intimidade na Amizade

Se dois homens ou duas mulheres têm de partilhar por algum tempo o mesmo espaço (em viagem, numa carruagem-cama ou numa pensão superlotada), não é raro nascerem nessas situações amizades muito singulares. 
Cada um tem a sua maneira especial de lavar os dentes, de se curvar para descalçar os sapatos ou de encolher as pernas para dormir. 
A roupa interior, e o resto do vestuário, embora semelhantes, revelam, no pormenor, inúmeras pequenas diferenças a um olhar atento. 

A princípio - provavelmente devido ao individualismo excessivo do modo de vida actual - existe qualquer coisa como uma resistência semelhante a uma leve repugnância e que rejeita uma aproximação maior, uma ofensa contra a própria personalidade, até ao momento em que essa resistência é superada para dar lugar a uma comunidade que revela uma estranha origem, como uma cicatriz. 

Muitas pessoas mostram-se, depois de uma tal transformação, mais alegres do que normalmente são; a maior parte mais inofensivas; uma boa parte delas mais faladoras; e quase todas mais amáveis. 
A sua personalidade mudou, quase se poderia dizer que foi trocada, subcutaneamente, por outra, menos marcada: no lugar do eu surge o primeiro indício de um nós, claramente sentido como um mal-estar e uma diminuição, mas, no fundo, irresistível.

Robert Musil, in 'O Homem sem Qualidades'

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