Nalva Araújo

Um dos livros mais lindos que já li,um livro infantil feito para adultos...Há uma passagem que ele diz que não gostaria de ser lido de qualquer jeito,ah como se alguém pudesse...eu me emociono cada vez que leio...e releio sempre...
Criar laços é natural,é bom,porém ter que dar adeus é perder um pedacinho de nós... É dilacerante!

Esse trecho retrata bem o que é isso:

RAPOSA
-Bom dia

PEQUENO PRÍNCIPE
-Bom dia

RAPOSA
-Eu estou aqui.

PEQUENO PRÍNCIPE
-Quem és tu? Tu és bem bonita...

RAPOSA
-Sou uma raposa.

PEQUENO PRÍNCIPE
-Vem brincar comigo. Estou tão triste...

RAPOSA
-Eu não posso brincar contigo. Não me cativaram ainda.

PEQUENO PRÍNCIPE
-Ah! Desculpa. (Tempo) Que quer dizer "cativar"?

RAPOSA
-Tu não és daqui. Que procura?

PEQUENO PRÍNCIPE
-Procuro os homens. Que quer dizer "cativar"?

RAPOSA
-Os homens têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que eles fazem. Tu procuras galinhas?

PEQUENO PRÍNCIPE
-Não. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?

RAPOSA
-É uma coisa muito esquecida. Significa "criar laços".

PEQUENO PRÍNCIPE
-Criar laços?

RAPOSA
-Exatamente. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim.
Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

PEQUENO PRÍNCIPE
-Começo a compreender. Existe uma flor... Eu creio que ela me cativou...

RAPOSA
-É possível. Vê-se tanta coisa na Terra...

PEQUENO PRÍNCIPE
-Oh! Não foi na Terra.

RAPOSA
(Intrigada) -Num outro planeta?

PEQUENO PRÍNCIPE
-Sim

RAPOSA
-Há caçadores neste planeta?

PEQUENO PRÍNCIPE
-Não.

RAPOSA
-Que bom! E galinhas?

PEQUENO PRÍNCIPE
-Também não.

RAPOSA
-Nada é perfeito. (Tempo) Minha vida é monótona. 
Eu caço as galinhas e os homens me caçam. 
Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. 
E por isso eu me aborreço um pouco. 
Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. 
Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. 
Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. 
O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. 
E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. 
O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. 
E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. 
O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. 
E eu amarei o barulho do vento no trigo... (Tempo) Por favor... cativa-me!


PEQUENO PRÍNCIPE
-Bem quisera, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

RAPOSA
-A gente só conhece bem as coisas que cativou.
Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

PEQUENO PRÍNCIPE
-Que é preciso fazer?

RAPOSA
-É preciso ser paciente.
-Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva.
-Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada.
-A linguagem é uma fonte de mal entendidos.
-Mas, cada dia, te sentarás mais perto... (Tempo) Será melhor voltares à mesma hora.
-Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ficar feliz. 
-Quanto a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. 
-Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!
-Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.

PEQUENO PRÍNCIPE
-Que é um rito?

RAPOSA
-É uma coisa muito esquecida também. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas.

PEQUENO PRÍNCIPE
Agora eu vou embora.

RAPOSA
-Ah! Eu vou chorar.

PEQUENO PRÍNCIPE
-A culpa é tua. Eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

RAPOSA
-Quis.

PEQUENO PRÍNCIPE
-Mas tu vais chorar!

RAPOSA
-Vou.

PEQUENO PRÍNCIPE
-Então, não sais lucrando nada!

RAPOSA
-Eu lucro, por causa da cor do trigo. (Tempo) Vai rever as rosas.
-Tu compreenderás que a tua é a única no mundo.
-Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo. (O príncipe vai até as rosas)

PEQUENO PRÍNCIPE
-Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda.
-Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém.
-Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras.
-Mas eu fiz dela um amigo.
-Ela é agora única no mundo. (As rosas ficam desapontadas) Sois belas, mas vazias.
-Não se pode morrer por vós.

-Minha rosa, sem dúvida um traseunte qualquer pensaria que se parece convosco.
-Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi ela que eu reguei.
-Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento.
-Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas).
-Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes.
- É a minha rosa. (O príncipe volta à raposa) Adeus.

RAPOSA
-Adeus. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

PEQUENO PRÍNCIPE
-O essencial é invisível para os olhos..

RAPOSA
-Foi o tempo que perdeste com tua rosa que faz tua rosa tão importante.

PEQUENO PRÍNCIPE
-Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa...

RAPOSA
-Os homens esquecem essa verdade. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...

PEQUENO PRÍNCIPE
-Eu sou responsável pela minha rosa...

( Chorei mais uma vez...)




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