Toda semana, um velho fazendeiro tomava um trem para ir à cidade depositar em um banco o produto da colheita.
Ele procedia assim havia muitos anos e no final da tarde retornava no mesmo trem.
Na viagem de volta, também era rotineira a presença de um professor universitário, que aproveitava a viagem para ler algum livro, corrigir alguma prova ou preparar algum teste para aplicar em aula.
Com isso ele se distraía e não sentia o tempo passar.
Numa dessas viagens, o professor esqueceu sua pasta na escola e ficou sem ter com quê se distrair.
Resolveu então puxar conversa com o velho fazendeiro que ele sempre via no trem.
- Boa tarde - cumprimentou o professor.
Depois de dizer seu nome, acrescentou:
- Sou professor universitário, tenho cinco diplomas, falo seis idiomas e sou muito viajado, conheço todos os continentes.
E o senhor, quem é?
Após também dizer seu nome, o velho acrescentou:
- Mas eu não completei nem o primário...
O professor, vendo que entre eles não seria possível uma longa conversa, sugeriu uma brincadeira para passar o tempo:
- Eu lhe faço uma pergunta e o senhor me faz uma pergunta. Quem errar paga um real para o outro.
Ah, não acho justo - disse o velho.
- Como eu tenho pouco conhecimento, se eu errar eu lhe pago um real.
Mas se o senhor, que tem muito conhecimento, errar, aí o senhor me paga dez reais.
Assim acertaram e o velho pediu para fazer a primeira pergunta:
- O que é, o que é que tem dez metros de comprimento, pesa dez quilos, tem capacidade para transportar dez pessoas e dá a volta ao mundo em dez dias?
O professor pensou, pensou, mas não teve jeito de achar a resposta.
- Não sei - admitiu.
- Então me pague os dez reais - disse o velho estendendo à mão.
O professor pagou e, percebendo a perspicácia do velho, disse:
- Sendo a minha vez de perguntar, eu devolvo a mesma pergunta ao senhor: o que é essa coisa que o senhor me perguntou?
- Eu também não sei - respondeu o velho e, estendendo a mão, disse:
- Aqui está o seu um real.
O que vale não é a quantidade de conhecimento que temos, mas o que somos capazes de fazer com o pouco de conhecimento que tivemos a oportunidade de receber.
[do livro:-O que podemos aprender com os gansos-Alexandre Rangel]
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