Nalva Araújo



Ainda que a sinceridade e a confiança estejam relacionadas, são, no entanto, diferentes: a sinceridade consiste em abrir o coração e em mostrarmo-nos tal como somos por amor da verdade.
Odeia o disfarce e quer reparar as suas faltas, mesmo que para isso seja preciso diminui-las pelo valor da confissão. 
Quanto à confiança, esta não nos concede o mesmo grau de liberdade, as suas regras são mais rigorosas, requer mais prudência e moderação. 

Ora, nem sempre estamos livres para obedecer a estes requisitos. 
Não somos só nós, no que a ela diz respeito, que estamos envolvidos, porque os nossos interesses misturam-se quase sempre com os dos outros.
Requer uma enorme justeza para não levar os nossos amigos a entregarem-se, pelo facto de nós nos termos entregado, como para lhes oferecer um presente, com a única intenção de aumentar o preço do que nós damos.

Fica-se sempre satisfeito com o facto de os outros depositarem confiança em nós porque é um tributo que oferecemos ao nosso mérito, é um depósito que fazemos à nossa confiança, são, enfim, fianças que lhes dão algum direito sobre nós, isto é, aceitamos uma certa dependência à qual nos sujeitamos voluntariamente. Não, não é minha intenção destruir com as minhas palavras a confiança, que é tão importante entre os homens, uma vez que é o elo entre a sociedade e a amizade.

(...) Damos a nossa confiança, a maior parte das vezes, por uma questão de vaidade, porque queremos falar, porque queremos conquistar a confiança dos outros, mas também para podermos trocar segredos. 
Há pessoas que terão razão em acreditar em nós e com as quais não teríamos boa razão de corresponder, mas ficamos quites quando guardamos os seus segredos e quando correspondemos com confidências superficiais. 

Há outras cuja sinceridade conhecemos, que não têm nada a ver connosco, mas em quem podemos confiar, seja por escolha ou por estima. 
A estas pessoas não devemos esconder nada do que nos é íntimo, devendo mostrar-lhes verdadeiramente as nossas boas e mesmo as nossas más qualidades, sem exagerarmos nas primeiras e sem diminuirmos as segundas.


La Rochefoucauld, in 'Reflexões'

http://www.citador.pt/ 



[*Penso... que é melhor sermos injustiçados do que cometermos a injustiça...E a desconfiança é uma forma dolorida e ingrata de injustiça...Posso me perder por confiar,contudo...Não quero perder ninguém...por desconfiar...

Nalva Araújo ]


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