Mas é exactamente isso que é supreendente em ti: tu gostas de dar prazer.
Gostas de fazer do teu corpo um objecto agradável, gostas de dar prazer com o teu próprio corpo: é precisamente isso o que os ocidentais já não conseguem fazer.
Perderam completamente o sentimento da dádiva.
Mesmo esforçando-se, não conseguem assumir o sexo como uma coisa natural.
Além de terem vergonha do seu corpo, muito diferente do corpo das estrelas pornográficas, também não sentem uma verdadeira atracção pelo corpo dos outros.
Ora, é impossível fazer amor sem um certo abandono, sem a aceitação, pelo menos temporária, de um certo estado de fraqueza e de dependência.
Tanto a exaltação sentimental como a obsessão sexual têm a mesma origem, resultam ambas do esquecimento parcial do eu; é algo que não pode acontecer sem que a pessoa perca alguma coisa de si mesma.
E nós tornámo-nos frios, racionais, extremamente conscientes dos nossos direitos e da nossa existência individual; primeiro que tudo, queremos evitar a alienação e a dependência; além disso, vivemos obcecados com a saúde e com a higiene: e não são essas as condições ideais para fazer amor.
Michel Houellebecq, in 'Plataforma'
http://www.citador.pt/textos/
[* Refletindo sobre o texto ...está aí um fato exposto em grande sabedoria...
No momento do sexo se estivermos pensando em nosso prazer,com certeza teremos um prazer solitário,pois que o prazer sexual é descobrir o prazer em dar-se ao outro...abdicar de si em favor do outro...Daí cada um com esse intuito, o prazer é a consequencia de um ato prazeroso...Quem se deita e espera,sai da cama frustrado...ou com menos dinheiro no bolso...
Nalva Araújo]
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