Sim, o que é o próprio homem senão um cego insecto inane a zumbir (?) contra uma janela fechada; instintivamente sente para além do vidro uma grande luz e calor.
Mas é cego e não pode vê-la; nem pode ver que algo se interpõe entre ele e a luz.
De modo que preguiçosamente (?) se esforça por se aproximar dela.
Pode afastar-se da luz, mas não pode ir além do vidro.
Como o ajudará a Ciência?
Pode descobrir a aspereza e nodosidade próprias do vidro, pode chegar a conhecer que aqui é mais espesso, ali mais fino, aqui mais grosseiro, ali mais delicado...
Com tudo isto, amável filósofo, quão mais perto está da luz?
Quão mais perto alcança ver?
E contudo, acredito que o homem de génio, o poeta, de algum modo consegue atravessar o vidro para a luz do outro lado.
Sente calor e alegria por estar tão mais além de todos os homens (?), mas mesmo assim não continuará ele cego?
Está ele um pouco mais perto de conhecer a Verdade eterna?
Fernando Pessoa, in 'Ideias Estéticas - Da Literatura'
http://www.citador.pt/
[* Quanto mais leio Fernando Pessoa mais tenho vontade de ir além do vidro e romper a barreira da luz...
Eu creio que o poeta tem uma percepção extra-sensorial mesmo,tem uma ligação especial com a Natureza e com os seres, vivos e desencarnados... isso é indiscutível.
Eu creio que o poeta tem uma percepção extra-sensorial mesmo,tem uma ligação especial com a Natureza e com os seres, vivos e desencarnados... isso é indiscutível.
O poeta capta a energia e o pensamento...vê e ouve muito além do que se pode ver e ouvir...vai além do seu tempo...E por estar ligado a emoção...vibra na mesma sintonia...dos sentimentos.
Nalva Araújo]
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